
A expansão acelerada dos data centers ao redor do mundo, impulsionada pela crescente demanda por inteligência artificial, computação em nuvem e serviços digitais, vem gerando sinais de alerta ambiental e logístico em diversas regiões. Especialistas e autoridades públicas alertam que o ritmo atual de construção dessas estruturas está pressionando redes elétricas, sistemas de abastecimento de água e a própria sustentabilidade urbana.
Segundo um levantamento publicado pelo Financial Times, grandes empresas de tecnologia como Microsoft, Amazon, Google e Meta estão investindo bilhões de dólares em novos data centers — instalações que processam e armazenam dados de forma intensiva, servindo de infraestrutura essencial para IA generativa, streaming, redes sociais e plataformas digitais.
Nos Estados Unidos, o boom de data centers já começou a impactar o fornecimento de energia em estados como Virgínia, Texas e Arizona, onde a demanda por eletricidade ultrapassou previsões. Em alguns locais, planos de novas instalações estão sendo revistos por comprometerem o equilíbrio das redes.
O problema se repete na Europa e em países asiáticos, com destaque para o Japão e Cingapura. Autoridades locais passaram a exigir limites de consumo ou compensações ambientais como contrapartida para autorizar novos empreendimentos.
“O que vemos é uma corrida tecnológica com consequências físicas reais: aumento no consumo de energia, uso intensivo de água para resfriamento e competição por espaço urbano e recursos naturais”, disse Amanda T. Lewis, pesquisadora de infraestrutura digital da Universidade de Amsterdã.
De acordo com estimativas do International Energy Agency (IEA), os data centers consumiram cerca de 460 terawatts-hora de energia em 2022, e esse número pode dobrar até 2026 se a demanda seguir no ritmo atual. A IA, em especial, eleva o uso computacional: treinar modelos de linguagem como o GPT-4 consome mais energia do que uma cidade de médio porte durante um mês, apontam estudos.
A questão do resfriamento também é central. Muitos data centers utilizam milhões de litros de água por dia para manter a temperatura dos servidores. Em regiões já afetadas por crises hídricas, isso representa um desafio político e ambiental crescente.
Empresas do setor afirmam estar investindo em tecnologias mais eficientes, uso de energia renovável e sistemas de reciclagem hídrica, mas especialistas alertam que a compensação nem sempre é suficiente. “Não se trata apenas de eficiência energética, mas de reavaliar o modelo de expansão digital atual”, afirma Lewis.
O crescimento global dos data centers se tornou um símbolo da nova economia digital — mas também revela a urgência de repensar o equilíbrio entre inovação tecnológica e responsabilidade ambiental. A revolução da IA, ao que tudo indica, não virá sem custos físicos — e o mundo já começa a senti-los.
FONTE: ft.com