A revolução da inteligência artificial não acontece apenas nos data centers e laboratórios de pesquisa. Ela também se desenrola nos bastidores das Big Techs, onde uma intensa disputa por talentos em IA tem remodelado a dinâmica do mercado de trabalho global. Empresas como Meta, Google, Microsoft, OpenAI e Amazon competem ferozmente por profissionais capazes de desenvolver algoritmos de última geração — e estão dispostas a pagar caro por isso.
Segundo levantamento recente publicado pela Deutsche Welle e corroborado por consultorias de recrutamento do Vale do Silício, engenheiros de IA e especialistas em aprendizado profundo (deep learning) vêm sendo contratados com salários anuais que ultrapassam US$ 1 milhão, incluindo bônus e ações. A busca por especialistas em modelagem de linguagem, arquitetura de redes neurais e segurança algorítmica transformou o setor em um verdadeiro leilão de cérebros.
“É a maior guerra por talentos que o setor de tecnologia já viu desde a era das pontocom”, afirma Lena Hsu, diretora de tecnologia da firma de headhunting TechTalent. “As empresas estão formando suas próprias universidades internas e, em alguns casos, absorvendo centros de pesquisa acadêmicos inteiros”.
Para muitas startups e centros de inovação menores, o fenômeno representa um desafio: manter profissionais altamente capacitados se tornou quase impossível diante da força financeira das gigantes. Em contrapartida, universidades e governos começam a discutir estratégias de retenção de talentos, incluindo bolsas de pesquisa, acordos com empresas locais e centros de excelência.
A tendência levanta ainda questionamentos éticos. O recrutamento acelerado e a concentração de talentos nas mãos de poucas empresas podem levar a um cenário em que o avanço tecnológico global seja comandado por uma elite corporativa, com pouca transparência e controle público.
“A inteligência artificial não é apenas uma tecnologia; é uma estrutura de poder. Quem a domina hoje, dominará setores inteiros amanhã”, alerta Carlos de Almeida, pesquisador da USP.
FONTE: dw.com