O senador norte-americano Bernie Sanders (independente–Vermont) voltou a chamar atenção da opinião pública nesta segunda-feira ao afirmar, em sessão do Comitê de Trabalho e Tecnologia do Senado, que o avanço da inteligência artificial no setor produtivo pode provocar uma onda de desemprego em massa, com impactos sociais comparáveis “a uma grande crise global”.
Segundo Sanders, o rápido avanço da automação e da IA generativa ameaça tornar obsoletos milhões de empregos em setores como transporte, atendimento ao cliente, produção industrial, segurança privada e jornalismo, sem que políticas públicas estejam sendo adotadas para mitigar os efeitos dessa transição.
“O que estamos enfrentando não é um futuro distante. É agora. A IA está substituindo trabalhadores reais, e o lucro está sendo concentrado nas mãos de meia dúzia de corporações de tecnologia”, afirmou o senador. “Se não reagirmos, estaremos diante de uma nova era de desigualdade histórica — com robôs enriquecendo os bilionários e milhões de pessoas sendo descartadas.”
Como contraponto à crescente substituição de empregos por sistemas automatizados, Sanders propôs reduzir a jornada de trabalho padrão de 40 para 32 horas semanais, sem redução salarial, além de instituir uma tributação progressiva sobre os lucros obtidos com automação. Os recursos, segundo o parlamentar, seriam investidos em requalificação profissional, proteção social e financiamento público de empregos em setores essenciais.
A proposta recebeu apoio imediato de sindicatos e organizações trabalhistas, mas gerou resistência entre representantes da indústria e da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, que classificaram a medida como “populista” e “desconectada da realidade econômica atual”.
Especialistas, por outro lado, reconhecem que a preocupação tem base concreta. Um relatório do MIT divulgado no mês passado estima que até 28% das funções de trabalho atuais nos EUA poderiam ser parcial ou totalmente automatizadas até 2030, com impacto direto nas classes média e baixa.
Com o debate sobre IA avançando não apenas no campo da inovação, mas agora também no centro das discussões sobre desigualdade, política fiscal e direitos trabalhistas, a fala de Bernie Sanders reacende um dilema central da era digital: quem se beneficia da tecnologia — e quem paga o preço por ela.
FONTE: zap.aeiou.pt