Em um movimento que reacende o embate entre segurança pública e privacidade digital, autoridades do Reino Unido e da União Europeia estão promovendo iniciativas que visam viabilizar, até 2030, o acesso legal a dados criptografados de ponta a ponta por parte de órgãos de investigação e segurança.
A proposta, revelada em relatório conjunto de grupos parlamentares e agências de cibersegurança, tem como objetivo garantir a capacidade de acesso a informações trocadas por criminosos em plataformas digitais, como aplicativos de mensagens criptografadas (WhatsApp, Signal e Telegram), sem comprometer a confidencialidade geral dos usuários.
No entanto, especialistas e defensores da privacidade argumentam que a medida representa uma ameaça à integridade da criptografia, podendo abrir precedentes para vigilância em massa, violações de direitos civis e exploração por regimes autoritários. Empresas de tecnologia alertam que a criação de “portas dos fundos” (backdoors) enfraquece a segurança geral da comunicação digital.
Grupos como a Electronic Frontier Foundation (EFF) e a Mozilla Foundation classificaram a iniciativa como tecnicamente inviável e politicamente arriscada. “Não existe uma chave mágica que abra apenas para os bons. Qualquer brecha será explorada”, afirmou Eva Galperin, diretora de cibersegurança da EFF.
O debate ganha relevância em um contexto de crescentes ameaças cibernéticas, uso de criptografia por grupos terroristas e pressões políticas por mais controle sobre redes digitais. O Parlamento Europeu ainda não definiu um cronograma claro para votação das propostas, que seguem em discussão técnica e jurídica entre os Estados-membros.
O impasse coloca em evidência o desafio contemporâneo de conciliar proteção da sociedade e salvaguarda das liberdades individuais em um ambiente digital cada vez mais complexo e vulnerável.
FONTE: techradar.com