Um estudo divulgado nesta segunda-feira (4) pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Instituto Datafolha, acendeu um alerta sobre os métodos de disciplina utilizados por famílias brasileiras na primeira infância. Segundo os dados, 29% dos cuidadores de crianças de até seis anos admitem ainda recorrer a castigos físicos, como palmadas e beliscões, mesmo após mais de uma década da promulgação da Lei da Palmada (Lei nº 13.010/2014).
A pesquisa integra a nova edição do Panorama da Primeira Infância, que avalia práticas parentais e percepção social sobre o cuidado com crianças pequenas em todo o território nacional. O levantamento ouviu mais de 2 mil responsáveis por crianças e revelou que 17% dos entrevistados consideram os castigos físicos eficazes na educação infantil, contrariando recomendações de organismos internacionais e especialistas em desenvolvimento humano.
Para os autores do estudo, o número é preocupante e indica a necessidade de reforçar campanhas de conscientização, apoio psicossocial e políticas públicas de parentalidade positiva. “Estamos falando de um comportamento enraizado na cultura brasileira, que ainda é visto por muitos como forma aceitável de correção, apesar dos danos comprovados”, afirmou Mariana Luz, diretora da fundação.
A pesquisa também revelou que o uso de violência verbal, como gritos e ameaças, é ainda mais comum — alcançando cerca de 45% dos cuidadores. Especialistas alertam que esse tipo de conduta pode afetar negativamente o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças, além de aumentar a propensão a problemas como agressividade e evasão escolar na adolescência.
A Lei da Palmada, sancionada em 2014, proíbe o uso de métodos violentos para educar crianças e adolescentes, estabelecendo que pais e responsáveis devem utilizar meios não violentos de disciplina. Embora a norma represente um avanço legislativo, sua efetivação tem esbarrado na falta de acompanhamento contínuo, formação de profissionais e mecanismos de denúncia acessíveis às famílias.
A Fundação Maria Cecilia defende que o combate à violência na infância deve ser uma pauta prioritária do novo Plano Nacional da Primeira Infância, em fase de elaboração pelo governo federal. Entre as propostas, estão a ampliação da rede de apoio às famílias, capacitação de agentes comunitários e ampliação de creches com atendimento integral e humanizado.
FONTE: agenciabrasil.com.br