Lançada como parte da política federal “Mais Professores”, a Prova Nacional Docente (PND) vem se consolidando como um dos principais instrumentos de avaliação e ingresso na carreira de magistério no Brasil. No entanto, especialistas, educadores e pesquisadores vêm chamando atenção para os desafios estruturais que ainda cercam a valorização da formação docente no país.
A PND, que será aplicada em outubro de 2025, tem como objetivo avaliar conhecimentos específicos e pedagógicos de concluintes de cursos de licenciatura, funcionando como parâmetro nacional de seleção para concursos públicos em redes estaduais e municipais. A prova está integrada ao novo Exame Nacional de Avaliação das Licenciaturas (Enade Licenciaturas), que também estreou em 2025.
Embora a iniciativa represente um avanço na padronização de critérios de qualidade, críticos alertam que a medida não pode ser tratada como solução isolada para os entraves da carreira docente. “Aplicar uma prova nacional é apenas uma parte do problema. É preciso discutir formação inicial de qualidade, salário digno, plano de carreira e condições de trabalho”, afirma a educadora e pesquisadora da UnB, Carolina Amaral.
O Brasil enfrenta um déficit histórico de professores qualificados, especialmente nas áreas de matemática, química e física, e a maioria das licenciaturas continua sendo ofertada por instituições privadas de baixa avaliação. Segundo o Censo da Educação Superior, mais de 60% dos estudantes de licenciatura abandonam o curso antes da conclusão.
Nesse contexto, a PND tem sido vista com ambivalência: ao mesmo tempo em que busca reconhecer e premiar a excelência, pode aprofundar desigualdades se não vier acompanhada de políticas estruturantes de formação, financiamento e permanência estudantil nas licenciaturas.
Representantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e de entidades acadêmicas pedem que o Ministério da Educação utilize os dados da PND para orientar políticas públicas mais amplas, e não apenas como filtro de seleção. “É hora de tratar o magistério como carreira de Estado, com estabilidade, reconhecimento e projeto de país”, destaca o manifesto divulgado por professores das universidades federais.
Com a aplicação da primeira edição da PND se aproximando, o debate sobre o futuro da profissão docente ganha força e revela que a prova, embora necessária, precisa estar inserida em uma estratégia mais ampla e comprometida com a valorização da escola pública e de seus profissionais.
FONTE: jornalunesp.com