A nova onda de tarifas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos está gerando efeitos colaterais inesperados dentro da própria economia americana. Enquanto o governo aposta na política protecionista como estratégia para fortalecer a indústria nacional, economistas e líderes do setor financeiro alertam que as medidas podem provocar um efeito inflacionário que compromete os planos de estímulo monetário.
O debate em torno da política de juros do Federal Reserve (Fed) ganhou novos contornos nos últimos dias. Pressionado politicamente por setores produtivos e parte do Congresso, o banco central americano enfrenta agora o dilema de estimular a economia com cortes na taxa básica – atualmente em 5,25% – sem agravar a inflação, que ensaiava desaceleração no primeiro semestre, mas voltou a subir com o impacto das tarifas sobre insumos importados.
Segundo analistas da Goldman Sachs, os novos encargos tarifários podem elevar o custo de vida em até 1,2 ponto percentual nos próximos seis meses, especialmente nos setores de eletrônicos, vestuário, autopeças e alimentos processados. Com isso, o espaço para cortes nos juros ficaria restrito, o que pode frustrar parte do mercado que apostava em uma flexibilização já a partir de setembro.
“O Fed está entre a cruz e a espada”, afirma Dana Collins, estrategista-chefe do Bank of America. “Por um lado, há uma economia que precisa de estímulos para manter o ritmo de crescimento; por outro, as tarifas criam um novo vetor de inflação que exige cautela redobrada.”
O presidente do Fed, Jerome Powell, ainda não se pronunciou oficialmente sobre os impactos das tarifas na política monetária, mas já há expectativa de que o tema ganhe destaque na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), marcada para o fim deste mês.
Internamente, o debate também é político. Aliados do governo pressionam por cortes agressivos – inclusive defendendo uma taxa-alvo de 1% até o fim de 2025 –, enquanto economistas independentes alertam para os riscos de politização do Fed e seus efeitos sobre a credibilidade da política econômica americana.
Enquanto isso, os mercados reagem com cautela. O índice Nasdaq, mais sensível ao custo do crédito, recuou 0,8% nesta manhã, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos voltou a subir, refletindo a expectativa de juros mais altos por mais tempo.
Diante de um cenário de crescimento moderado, inflação pressionada e ruídos políticos, o Federal Reserve se vê novamente no centro de um xadrez complexo – onde cada movimento pode repercutir não apenas nos Estados Unidos, mas em toda a economia global.
FONTE: reuters.com