A nova escalada tarifária promovida pelos Estados Unidos reacendeu temores de uma desaceleração global e provocou instabilidade nos principais centros financeiros do mundo. A administração norte-americana anunciou, na última sexta-feira, tarifas de até 50% sobre produtos importados da União Europeia, México, Canadá e Brasil, aprofundando o clima de incerteza sobre as cadeias de suprimento e o futuro do comércio internacional.
A medida foi justificada pelo governo americano como parte de uma estratégia de “defesa da indústria nacional”, especialmente nos setores de tecnologia, automóveis, metais e energia. No entanto, analistas internacionais interpretam o movimento como um gesto político voltado ao público interno em ano eleitoral, o que torna suas motivações ainda mais imprevisíveis.
De acordo com relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), as novas tarifas podem reduzir o volume de comércio global em até US$ 420 bilhões em 2025, além de gerar um efeito cascata nas cadeias produtivas de países emergentes, incluindo Brasil, Índia e Vietnã. “Estamos diante de um cenário de desglobalização forçada”, alerta o economista-chefe da OMC, Jin-Ho Park.
Os mercados reagiram com volatilidade: o índice Dow Jones recuou 0,3%, o europeu DAX caiu 1%, e bolsas asiáticas também fecharam no vermelho. As empresas exportadoras foram as mais atingidas, enquanto o dólar se fortaleceu diante da fuga de capitais para ativos considerados mais seguros.
Governos da União Europeia e do México já ameaçam represálias comerciais, e o Brasil deve formalizar nos próximos dias um recurso à OMC questionando a legalidade da medida. “Essa ação compromete o ambiente multilateral e fere cláusulas de equilíbrio comercial”, afirmou o chanceler brasileiro, Mauro Vieira.
Os efeitos também devem ser sentidos nas prateleiras. Estima-se que os custos inflacionários nos EUA aumentem em até 1,2% em certos segmentos, sobretudo no varejo de eletrônicos, autopeças e alimentos processados, impactando diretamente o bolso do consumidor americano.
Com a tensão comercial em alta, os bancos centrais de diversos países acompanham de perto os desdobramentos para ajustar suas políticas monetárias. O Federal Reserve já sinalizou que pode adiar cortes na taxa de juros caso os impactos inflacionários se consolidem.
Em um cenário onde a retórica protecionista volta a ganhar força, a economia global entra em compasso de espera — entre a resistência de países atingidos e o risco real de um novo ciclo de retração econômica se consolidar nos próximos trimestres.
FONTE: apnews.com