A política tarifária adotada pela administração norte-americana ganhou novo contorno nesta semana, intensificando o clima de instabilidade no comércio internacional. Com tarifas unilaterais elevadas contra países como Brasil, China, México e Índia, os Estados Unidos adotam uma postura cada vez mais orientada por interesses políticos internos do que por fundamentos econômicos, segundo analistas internacionais.
A decisão mais recente, que impõe alíquotas de até 50% sobre produtos importados de nações parceiras, foi classificada por especialistas como uma tentativa de reforçar a base eleitoral do presidente Donald Trump em meio ao calendário pré-eleitoral de 2026. “É uma estratégia de curto prazo com efeitos potencialmente devastadores para o sistema multilateral de comércio”, afirmou Andrew Colson, pesquisador do Peterson Institute for International Economics.
A retórica protecionista dos EUA vem provocando reações em cadeia. O Brasil, principal afetado entre os países da América Latina, acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) e busca articular alianças regionais para contestar as medidas. “Trata-se de um gesto unilateral, sem consulta prévia e que fere acordos internacionais”, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nota oficial.
Para além dos impactos diplomáticos, o efeito prático já é sentido nas cadeias de suprimento. Exportadores brasileiros e mexicanos relatam cancelamento de contratos e redirecionamento de cargas. Grandes empresas americanas também expressaram preocupação, temendo represálias tarifárias e aumento nos custos de produção.
O clima de incerteza alimenta a volatilidade nos mercados financeiros globais, reduz a confiança de investidores e mina os esforços de cooperação internacional em setores estratégicos como energia, saúde e tecnologia.
A escalada tarifária ocorre em um momento delicado da economia global, com inflação persistente, juros elevados e crescimento desigual entre as grandes potências. “Não há vencedores em uma guerra comercial prolongada. O protecionismo político só agrava desequilíbrios globais”, alertou a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath.
Sem sinais de recuo por parte de Washington, governos e mercados observam com apreensão os próximos movimentos da Casa Branca — e temem que a lógica eleitoral se sobreponha ao equilíbrio econômico mundial.
FONTE: ft.com