A nova onda de tarifas impostas pelos Estados Unidos começa a provocar efeitos em cascata sobre os mercados internacionais, pressionando cadeias de suprimentos, preços ao consumidor e a estabilidade econômica global. Economistas e organizações multilaterais alertam que os aumentos de até 50% sobre produtos de países como Brasil, México, União Europeia e Canadá podem representar um ponto de inflexão nas dinâmicas comerciais dos últimos anos.
Estudo divulgado nesta segunda-feira pela Universidade de Yale projeta que as tarifas poderão reduzir em até 0,9 ponto percentual o PIB dos Estados Unidos ainda em 2025, além de provocar um aumento de até 1,2% nos preços de bens duráveis e manufaturados para o consumidor americano. Os setores mais afetados incluem eletrônicos, autopeças, produtos de cobre, alimentos processados e vestuário.
“As tarifas vão além de uma disputa comercial — elas redesenham a arquitetura do comércio global e impõem custos diretos à população, especialmente aos consumidores de baixa renda”, explica o pesquisador Ethan Leavitt, autor do relatório. A análise também destaca que o efeito é regressivo: quanto menor a renda, maior o impacto proporcional do encarecimento dos produtos básicos.
Na Europa e na Ásia, os efeitos já começam a se refletir nos preços de insumos industriais e nos custos de frete. Empresas multinacionais, como a alemã Siemens e a japonesa Hitachi, alertaram para o risco de interrupções na cadeia logística e já sinalizam repasse parcial dos custos aos clientes finais. “A inflação, que vinha moderada após o pico de 2022, pode voltar a ganhar tração por fatores externos que estão fora do controle dos bancos centrais”, alertou hoje o diretor do Banco da Inglaterra, Mark Rees.
Em Genebra, a Organização Mundial do Comércio (OMC) divulgou nota expressando “profunda preocupação” com as medidas adotadas pelos EUA. Segundo a entidade, a imposição unilateral de tarifas sobre produtos de países com os quais há acordos comerciais vigentes fere os princípios do comércio multilateral e pode estimular retaliações generalizadas, ampliando a instabilidade global.
A resposta mais imediata tem sido o desvio de rotas comerciais: países como China, Vietnã e Índia já se mobilizam para assumir parte dos fluxos interrompidos entre EUA e seus antigos parceiros tarifados. Apesar disso, a recomposição de fornecedores leva tempo e pode não ser suficiente para conter o efeito inflacionário imediato.
O cenário projeta um segundo semestre de 2025 mais tenso e incerto para o comércio internacional. Para analistas, a principal incógnita é a duração das tarifas: se mantidas ao longo do ano, os reflexos sobre a inflação global podem ser significativos e duradouros. Em uma economia interconectada, o protecionismo de uma superpotência tende a reverberar muito além de suas fronteiras.
FONTE: reuters.com