O boletim Focus divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central trouxe uma pequena revisão nas expectativas do mercado para a inflação de 2025. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, recuou de 4,85% para 4,83%. Para 2026, a estimativa segue em torno de 4,30%, o que mantém a inflação dentro da meta, mas ainda próxima do limite superior estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
A revisão, ainda que discreta, sinaliza que os analistas veem um cenário de maior estabilidade de preços no curto prazo. Entre os fatores que contribuíram para a expectativa de alívio estão a recente queda nos preços de alimentos e bebidas e a menor pressão sobre combustíveis, ambos fundamentais para o orçamento das famílias.
Entretanto, a melhora nas projeções inflacionárias não deverá se traduzir, por enquanto, em redução da taxa básica de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nesta semana e a expectativa é de que a Selic seja mantida em 15% ao ano, patamar considerado elevado. Segundo especialistas, a decisão tem como objetivo consolidar o processo de controle da inflação e evitar movimentos de instabilidade, sobretudo em um momento em que a atividade econômica dá sinais de desaceleração.
Nos últimos três meses, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), uma espécie de prévia do PIB, acumulou retrações consecutivas, com queda de 0,5% apenas em julho, resultado acima do esperado. O desempenho mais fraco reflete o impacto direto dos juros altos, que encarecem o crédito e desestimulam o consumo e o investimento.
Ainda assim, economistas defendem cautela. Para eles, reduzir a Selic agora poderia comprometer a ancoragem das expectativas inflacionárias, especialmente diante de riscos como o desequilíbrio das contas públicas, a volatilidade cambial e as incertezas do cenário internacional — marcado por tensões geopolíticas e pela política monetária de grandes economias, como os Estados Unidos.
O mercado já projeta que em 2026 a taxa básica de juros possa recuar para algo em torno de 12,3% ao ano, desde que a inflação siga em trajetória de queda e o país avance em medidas de ajuste fiscal. Enquanto isso, consumidores e empresários convivem com um ambiente de crédito restrito, afetando desde o financiamento de imóveis até o capital de giro das empresas.
Em resumo, o Brasil atravessa um período de transição delicado: a inflação dá sinais de acomodação, mas a economia desacelera e os juros permanecem altos. O desafio do governo e do Banco Central será encontrar o ponto de equilíbrio entre estímulo ao crescimento e responsabilidade fiscal, garantindo que a recuperação da atividade ocorra sem colocar em risco a estabilidade conquistada.
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