Apesar do aumento das tensões comerciais lideradas pelos Estados Unidos e de um cenário geopolítico conturbado, o comércio internacional segue mostrando sinais de resiliência. Dados divulgados nesta segunda-feira pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicam que o fluxo global de mercadorias cresceu 1,5% no primeiro semestre de 2025, e a expectativa é de uma expansão próxima a 2% até o fim do ano.
A performance surpreende analistas que projetavam uma retração em meio à escalada tarifária iniciada por Washington — que impôs, nas últimas semanas, tarifas de até 50% sobre produtos importados do Brasil, México, União Europeia e Canadá. No entanto, o comércio global tem reagido com diversificação de rotas, realocação de parceiros estratégicos e reforço de acordos regionais.
“Há uma reorganização em curso nas cadeias de suprimento. Empresas e países estão buscando alternativas para contornar as tarifas e manter o fluxo de bens. Isso exige agilidade e adaptação, mas o sistema comercial internacional está demonstrando uma capacidade notável de resposta”, avalia a economista-chefe da UNCTAD, Isabel Jiménez.
Entre os destaques do primeiro semestre está o crescimento das exportações da Ásia Oriental e do Sudeste Asiático, impulsionadas por acordos multilaterais como o RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente). A Índia, por exemplo, aumentou em 22% suas exportações de componentes eletrônicos para a Europa, enquanto o Vietnã desponta como fornecedor estratégico de têxteis e semicondutores para o mercado americano.
No Brasil, as exportações de commodities agrícolas seguem em ritmo forte, especialmente para a China e países árabes, o que tem ajudado a mitigar os impactos das barreiras impostas pelos EUA. Em resposta, o governo brasileiro também acelera tratativas para novos acordos bilaterais com o sudeste asiático e países africanos.
Apesar do desempenho positivo, a UNCTAD alerta que a manutenção do crescimento depende de fatores externos, como a estabilidade cambial, o comportamento dos juros nos países desenvolvidos e os desdobramentos da política comercial americana. “O comércio mundial está longe de imune às tensões atuais, mas segue vivo e adaptável. O desafio agora é evitar que o protecionismo se torne norma, e não exceção”, diz o relatório da entidade.
O cenário de 2025 reafirma que, mesmo sob pressão, o comércio internacional permanece como um motor essencial da economia global, provando que, diante de crises, a integração econômica global tende a se reorganizar – não a desaparecer.
FONTE: reuters.com