O governo brasileiro apresentou nesta quarta-feira (3) duas propostas ambiciosas para liderar a pauta ambiental global na 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025.
A primeira medida propõe a criação de um fundo internacional de conservação florestal, no valor de US$ 125 bilhões, voltado principalmente para países em desenvolvimento com cobertura vegetal significativa, como Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo. A segunda proposta visa o estabelecimento de um sistema global de precificação de carbono, com o objetivo de transformar o carbono em uma espécie de moeda ambiental internacional, usada como compensação em políticas de transição energética.
As propostas foram articuladas pelos ministérios do Meio Ambiente, Relações Exteriores e Fazenda, com apoio técnico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O governo busca usar sua posição de anfitrião da COP30 para mediar uma coalizão entre grandes emissores e países conservacionistas — tentando equilibrar desenvolvimento econômico e justiça climática.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a proposta pretende dar um passo além das compensações voluntárias e criar um sistema vinculante, transparente e justo, onde a emissão ou preservação de carbono tenha valor econômico real.
“Estamos propondo que o carbono se torne uma unidade de valor reconhecida internacionalmente. O carbono pode e deve ser tratado como um ativo de desenvolvimento, sobretudo para os países que mais preservam”, declarou Marina.
As propostas vêm sendo bem recebidas por parte da União Europeia, que já opera com o CBAM (Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira), e por países africanos e asiáticos que buscam maior protagonismo nas decisões climáticas. No entanto, há resistência de países como Estados Unidos e Austrália, que temem impactos sobre suas cadeias produtivas.
O fundo de US$ 125 bilhões seria abastecido por países desenvolvidos e bancos multilaterais, com governança compartilhada e foco em ações de reflorestamento, preservação de biomas e transição energética justa.
A COP30 será a primeira conferência climática da ONU sediada na Amazônia, e o Brasil pretende transformar o evento em um marco global para o financiamento climático. As propostas devem ser formalizadas no início das negociações, em novembro, e já estão sendo apresentadas em fóruns preparatórios com participação de diplomatas, cientistas e lideranças indígenas.
Com essas ações, o Brasil pretende não apenas reforçar seu papel como potência ambiental, mas também estabelecer novas bases para a economia verde internacional — na qual o carbono passa a ser tanto um recurso quanto uma moeda de cooperação global.