Apesar dos avanços pontuais registrados na educação superior e na redução do analfabetismo, a educação básica brasileira ainda lida com os efeitos negativos causados pela pandemia da Covid-19. Um relatório divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Observatório do Terceiro Setor alerta para graves retrocessos na aprendizagem de crianças e adolescentes, além do aprofundamento das desigualdades educacionais.
De acordo com o levantamento, estudantes das redes públicas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, apresentaram queda significativa no desempenho em leitura, escrita e matemática. A defasagem é maior entre alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, faixa que deveria consolidar a alfabetização.
“O Brasil perdeu o que chamamos de janela de ouro da aprendizagem. Crianças que estavam iniciando o processo de alfabetização em 2020 e 2021 não conseguiram recuperar o ritmo mesmo com o retorno presencial das aulas”, explica Mariana Gonçalves, pedagoga e coordenadora do estudo.
O relatório destaca ainda que o acesso desigual à tecnologia durante o ensino remoto agravou a situação. Enquanto escolas particulares conseguiram manter rotinas com plataformas digitais e professores treinados, boa parte das escolas públicas teve aulas intermitentes, sem estrutura mínima para garantir o ensino a distância.
Além da aprendizagem, o estudo aponta problemas relacionados à evasão escolar e ao aumento da desigualdade racial. Alunos pretos, pardos e indígenas são os mais afetados pela precariedade das condições de ensino, segundo os dados. “É urgente retomar programas de correção de fluxo escolar e reforço intensivo, sob pena de comprometermos gerações inteiras”, alerta a educadora.
Diante do cenário, o Ministério da Educação anunciou que irá lançar, ainda neste semestre, um pacote de medidas para mitigar os impactos da pandemia na educação básica. Entre as propostas, estão a ampliação da jornada escolar, reforço com tutores educacionais e investimentos em infraestrutura tecnológica.
A comunidade acadêmica e entidades da sociedade civil pedem que o governo priorize o tema. “Sem uma resposta contundente agora, os efeitos dessa defasagem poderão ser sentidos ao longo de toda a trajetória educacional e profissional desses estudantes”, conclui o relatório.
FONTE: observatorio3setor.org.br