Dados recentes divulgados por institutos de pesquisa em educação apontam que o Brasil mantém um patamar preocupante de analfabetismo funcional, com 29% da população entre 15 e 64 anos apresentando dificuldades para compreender e interpretar textos simples. O índice permanece inalterado desde 2018, revelando um cenário de estagnação no enfrentamento de um dos principais desafios estruturais da educação brasileira.
O analfabetismo funcional se refere à incapacidade de usar habilidades básicas de leitura e escrita em contextos cotidianos, como interpretar um bilhete, entender instruções médicas ou realizar operações matemáticas simples. Embora a taxa de analfabetismo absoluto (pessoas que não sabem ler nem escrever) tenha diminuído ao longo dos anos, o número de brasileiros funcionalmente analfabetos ainda é elevado.
Especialistas em educação apontam que a pandemia de Covid-19 agravou esse quadro, ao interromper a aprendizagem formal de milhões de estudantes e ampliar desigualdades já existentes. Crianças em fase de alfabetização foram particularmente afetadas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde o acesso à internet e a recursos educacionais é mais limitado.
Para a pedagoga Ilona Becskeházy, ex-secretária de educação básica do MEC, os dados demonstram que o Brasil falhou em priorizar a alfabetização de maneira sistemática e eficaz. “A alfabetização precisa ser uma política de Estado com continuidade, avaliação constante e foco em resultados. Sem isso, vamos continuar com gerações de estudantes que passam anos na escola sem aprender o básico”, afirma.
O Ministério da Educação lançou em 2023 o programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, com metas para garantir a alfabetização de todas as crianças até o 2º ano do ensino fundamental. No entanto, especialistas alertam que será necessário reforçar a formação docente, a gestão escolar e os instrumentos de avaliação para que o impacto seja duradouro.
A estagnação na alfabetização funcional também repercute no mercado de trabalho, uma vez que limita o acesso a empregos formais e reduz a produtividade da força de trabalho nacional. Para reverter o quadro, especialistas defendem ações integradas entre União, estados e municípios, aliadas a investimentos robustos em infraestrutura e acompanhamento pedagógico.
FONTE: UOL Educação