Pela primeira vez na história do Brasil, o número de estudantes matriculados em cursos superiores a distância (EaD) superou o total de alunos em cursos presenciais. Os dados constam no Censo da Educação Superior 2024, divulgado nesta semana pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Segundo o levantamento, o ensino superior brasileiro registrou 6,2 milhões de matrículas, das quais 53,4% foram em cursos EaD, contra 46,6% no modelo presencial. A virada marca uma transformação estrutural no perfil do ensino superior no país, acelerada por fatores como a pandemia da Covid-19, a ampliação da oferta por instituições privadas e a busca por alternativas mais flexíveis por parte dos estudantes.
Entre 2013 e 2024, as matrículas em cursos a distância cresceram mais de 370%, enquanto os cursos presenciais apresentaram retração no mesmo período. O setor privado concentra a maior parte das matrículas EaD, com destaque para licenciaturas, pedagogia e cursos de gestão.
Especialistas apontam que, embora o crescimento da EaD represente maior acessibilidade ao ensino superior, há preocupações com a qualidade pedagógica, acompanhamento docente e infraestrutura digital. Instituições públicas, por sua vez, ainda têm participação tímida no segmento, o que levanta debates sobre o papel do Estado na democratização do ensino remoto.
“O Brasil está vivendo uma reconfiguração profunda do ensino superior. Mas é preciso garantir que o avanço da EaD venha acompanhado de qualidade e regulação rigorosa”, alerta a pesquisadora Cláudia Araújo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O Ministério da Educação (MEC) afirmou que está revisando diretrizes de avaliação e credenciamento para cursos a distância, com o objetivo de evitar a massificação sem critérios de qualidade. Uma nova regulamentação da EaD está em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE).
Com esse cenário, o ensino superior brasileiro se vê diante do desafio de equilibrar acesso, flexibilidade e excelência, num momento em que a EaD deixa de ser uma alternativa e passa a ser o principal caminho de formação para milhões de brasileiros.
FONTE: veja.abril.com