As relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos entraram em uma fase de tensão inédita nesta segunda-feira (28), após a oficialização de tarifas de até 50% sobre uma lista de produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. A medida, anunciada pelo Departamento de Comércio dos EUA, afetará diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como aço, celulose, carne processada e alimentos industrializados.
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a decisão como “unilateral, injustificável e hostil”, afirmando que o governo brasileiro tentou diversas vias de negociação, todas ignoradas por Washington. “O Brasil não aceitará ser penalizado por questões comerciais que deveriam ser resolvidas por meio do diálogo. Vamos responder com firmeza, dentro do marco da legalidade internacional”, afirmou Lula em pronunciamento oficial.
A reação do Itamaraty foi imediata: o país acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) e deve entrar com uma solicitação de painel para contestar as tarifas. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores estuda medidas de reciprocidade comercial, que poderão incluir sobretaxas sobre produtos norte-americanos.
Especialistas avaliam que a escalada da crise está inserida em um contexto de radicalização protecionista do governo dos EUA, que tem adotado medidas comerciais voltadas ao público interno, em especial em ano pré-eleitoral. “Essa é uma jogada política, não econômica. O Brasil é um parceiro estratégico e essa decisão quebra a confiança entre as partes”, afirmou a analista internacional Fernanda Magnotta.
Setores industriais brasileiros já começaram a sentir os impactos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima perdas de até R$ 52 bilhões em exportações, com risco de fechamento de mais de 100 mil postos de trabalho. Para a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o impacto no PIB pode chegar a 1,5% caso as tarifas sejam mantidas ao longo do segundo semestre.
Em meio às incertezas, empresários pressionam por uma resposta diplomática que preserve os canais comerciais, mas também imponha limites à atuação dos EUA. O cenário, segundo observadores internacionais, exige cautela, mas também estratégia. “O Brasil precisa manter firmeza, mas evitar o isolamento. Essa crise pode ser uma oportunidade de fortalecer sua liderança diplomática regional”, conclui o cientista político Oliver Stuenkel.
A crise com os Estados Unidos se soma a outros desafios na agenda externa brasileira e testa a capacidade do país de equilibrar interesses comerciais, soberania e estabilidade diplomática.
FONTE: apnews.com