A decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos manufaturados brasileiros acendeu um sinal de alerta no governo federal e no setor produtivo. A medida, anunciada na última sexta-feira pela administração americana sob justificativa de “proteção estratégica à indústria nacional”, já é considerada a mais severa desde 2019 e pode impactar diretamente o crescimento do Brasil neste segundo semestre.
Segundo relatório da consultoria Goldman Sachs divulgado hoje, o chamado “tarifão” pode reduzir entre 0,3 e 0,6 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2025, dependendo da duração e do escopo final da medida. Os setores mais atingidos devem ser o automotivo, químico, metalúrgico e de eletrodomésticos, que concentram boa parte das exportações para o mercado norte-americano.
O impacto também deve ser sentido na cadeia de empregos industriais e na inflação, já que a pressão sobre o dólar pode elevar os custos de importações e insumos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou a medida como “desproporcional e politicamente motivada”, e confirmou que o Brasil estuda levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Não se trata apenas de uma questão comercial, mas de uma ameaça direta à retomada econômica em curso”, afirmou nesta manhã, em Brasília.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reagiu com preocupação e alertou que o tarifário representa um revés à diplomacia comercial entre os dois países. “É um golpe em setores que haviam retomado investimentos após o arrefecimento da pandemia. Exigimos uma resposta coordenada e célere do governo brasileiro”, declarou Robson Andrade, presidente da entidade.
Economistas alertam que, além da perda direta de receita, o movimento pode provocar recuo de confiança no mercado, travando decisões de investimento no curto prazo. A cotação do dólar, que vinha estável, já subiu 0,3% nesta segunda-feira, alcançando R$ 5,56, enquanto o Ibovespa futuro abriu em leve baixa.
O Planalto convocou uma reunião interministerial de emergência para esta terça-feira (15), com participação dos ministérios da Fazenda, Relações Exteriores, Desenvolvimento, Indústria e Comércio e da Casa Civil. A intenção é avaliar medidas de contenção e alternativas de diversificação de mercados, principalmente com países da Europa e Ásia.
Com a escalada tarifária, o governo teme que outras nações sigam o exemplo dos EUA, comprometendo o bom momento da balança comercial brasileira, que vinha registrando superávits recordes nos últimos trimestres.
A crise tarifária joga um novo desafio sobre a economia nacional, justamente no momento em que o Brasil sinalizava consistência em seus indicadores. Agora, a reação diplomática e a agilidade na articulação comercial serão decisivas para evitar que o tarifão se transforme em freio estrutural à recuperação econômica de 2025.
FONTE: economia.uol.com